Comece a pensar a tornar o seu jardim ou hortinha mais eco

Estamos no inverno mas esta é a altura ideal para começar a planear o seu jardim ou horta para uma versão mais eco, ou seja, mais ecologicamente responsável, mais sustentável. O primeiro alerta é: preparar um jardim sustentável não é comprar tudo o diz eco, natural, bio e outras mais designações. Não é comprar mobiliários, equipamentos eco, plantas e mais plantas, fertilizantes e produtos para tratamentos de pragas e doenças… Sim, certamente vai ter que adquirir alguns, mas o que se pretende mesmo é que as compras sejam mínimas, ou seja, uma redução dos fatores de produção. Mas não ficará um jardim muito simples, como vou conseguir? Se lhe surgiu este pensamento precisa de entender melhor o que é um jardim ou horta mais eco, pelo que a leitura deste artigo é para si. Normalmente a maior parte do investimento anual num jardim ou horta vai para a aquisição de sementes ou plantas, para o uso de fertilizantes e de produtos para o tratamento das culturas. Neste artigo, para simplificar, não abordamos os investimentos mais ou menos duradouros como construções, sistemas de armazenamento de água e de rega, mobiliários de jardim, entre outros.
Leia o nosso artigo e esteja a tempo de conseguir um jardim ou horta mais sustentável já na próxima primavera, com as novas plantações.

Proteger e fertilizar o solo

É fundamental reconhecer a importância de uma boa gestão da matéria orgânica no solo. Para proteger e fertilizar  o solo podemos recorrer à compostagem ou vermicompostagem ( se o espaço for pouco), às coberturas de solo (mulching), a fertilizantes naturais e a potenciadores da fertilidade do solo:

Compostagem:

A compostagem  é um processo que consegue um fertilizante sem teor excessivo de azoto e rico em microrganismos, rico em   húmus, designado de composto. Apesar de encontrarmos à venda o ideal é conseguir prepará-lo e a utilizar o seu próprio composto. No entanto se não conseguir prepará-lo, o melhor é adquiri-lo, mas sem primeiro tentar fazer a sua própria compostagem. Serve ainda uma ajudinha dos chamados ativadores de composto. A consolda e urtiga que facilmente encontramos no nosso jardim ou horta, são ótimas para acelerar o processo. Podemos dispensar assim os ativadores de composto existentes no mercado.

Coberturas do solo
São muitas as vantagens das coberturas do solo, além de se poder considerar o seu efeito estético. As coberturas do solo devem ser plantadas sob árvores e em canteiros e os adubos verdes nos canteiros que não estão a ser cultivados.No entanto, nem sempre é possível plantar ou deixar crescer, especialmente na horta ou em torno de novas plantações, pelo que o mulching, o uso de coberturas morta orgânica e (cascas, aparas de podas, folhas, cascas e palhas, etc.) e minerais (cascalho) são excelentes alternativas para proteger o solo. As primeiras, como usam materiais mortos naturais, ao se degradarem, vão de decompondo e vão melhorando a estrutura e a vida do solo. A cobertura morta ajuda a limitar as ervas daninhas, a reduzir a erosão do solo e a regular a temperatura e a manter a humidade ao redor das plantas. Na escolha de uma cobertura do solo deve-se ter em conta a compatibilidade das necessidades das plantas ( solos mais secos ou mais húmidos, mais ou menos ácidos) e a própria duração da cobertura do solo

Fertilizantes naturais
Aqui pode ser um aspecto em que talvez tenha de ir às compras, para os que não conseguirem aceder. São exemplos a farinha de sangue ( rica em azoto e que ajuda as plantas a crescer), algas marinhas secas como o lithotamne. Os fertilizantes naturais ajudam a corrigir a acidez do solo, melhoram a sua estrutura e estimulam a vida microbiana. Outros exemplos são os estrumes líquidos ou extratos fermentados que resultam da maceração de plantas como a urtiga, cavalinha ou consolda por vários dias ou semanas. Obtém-se assim um concentrado de ingredientes ativos que também podem ter ações fungicidas ou inseticidas.

Proteção e controlo de pragas e doenças nas culturas

Quando o jardim ou horta tem um equilíbrio natural, os predadores naturais são os responsáveis por controlar, regular as populações de pragas, de forma a que os estragos e prejuízos não sejam significativos. É preciso avaliar estes estragos e saber ponderar alguns e não correr à loja sempre que se veja um pequeno inseto nas nossas plantas. Primeiro é preciso conhecê-lo, não o responsabilizar pelos estragos nas suas plantas e avaliar a sua potencialidade como praga ou doença nas culturas

Controlo biológico

O controlo biológico é uma forma de regular pragas através de insetos ou ácaros auxiliares da agricultura. Estes podem atuar  como predadores naturais ou como parasitoides e são designados de insetos auxiliares. Pode-se também usar nematoides, fungos e bactérias específicas com ação patogénica para uma determinada praga. Existem muitos produtos no mercado mas a sua aplicação deve seguir as recomendações de um engenheiro agrónomo, de um técnico especializado.

Entre outras técnicas, há as cromotrópicas com cola que aprisionam os insetos atraídos por uma determinada cor e o uso de feromonas sexuais, que atrai e aprisiona os machos. Enquanto que com as simples armadilhas com cola também se perdem insetos úteis, as armadilhas com feromonas, normalmente atraem machos de uma espécie específica.

Fomentar um equilíbrio natural

Há muitos produtos no mercado para o controlo biológico, mas este pode ser feito de forma mais ecológica,  através da fomentação natural de auxiliares: construção de sebes e espirais de aromáticas, consociações e rotações de culturas, uso de plantas companheiras, construção de ninhos para pássaros, construção de “hotéis de insetos”

Boas práticas culturais

A escolha de variedades resistentes a determinadas pragas e ou doenças e adaptadas às condições de solo e de clima,  considerar as épocas e momentos de plantação adequados para as diferentes espécie e variedade de plantas, o uso de compassos de plantação adequados, as podas de limpeza e de arejamento nas árvores e arbustos, as regas e as fertilizações equilibradas promovem a saúde das plantas.

Obtenção de plantas

As plantas são muito fáceis  de multiplicar e são fantásticas porque faz-se de diversas formas. De um só fruto podem-se tirar diversas sementes, muitas plantas obtém-se simplesmente dividindo-se as raízes, outras por enraizamento de folhas e de caules, por enxertias, etc. Não falta material temos é que conhecer as técnicas mais adequadas para cada espécie de planta. Quando as culturas estão doentes é efetivamente mais acertado adquirir sementes ou plantas novas de viveiros certificados. No entanto com um jardim ou horta mais ecológica, seguindo as opções anteriores,  as hipóteses de conseguir produzir as suas próprias plantas com maior sucesso é cada vez maior.

Outra dica, procure variedades regionais, normalmente  são as mais rústicas e mais adaptadas ao local. Podem não ser as mais produtivas ou bonitas mas muitas vezes são mais saborosos e ou cheirosas.

Conclusão

Contruir um jardim mais ecológico e sustentável é desafiar-se a utilizar de forma correta tudo o que a natureza nos dá. A compra de fatores de produção tem de passar a ser ponderada, apenas quando extremamente necessário oy quando não se consegue obter com os recursos disponíveis. A oferta no mercado é muito vasta mas é sempre preferível aconselhar-se com um especialista.

Publicação anterior: Portugal Bio, Naturalmente! Episódio 9 – “Produção Biológica de Cereais e Forragens” – BioPlatform

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